O deputado estadual Comandante Dan (Podemos) voltou a falar da necessidade de planejamento e ação na fronteira internacional do Amazonas para o combate ao avanço do crime organizado. Ele deu visibilidade ao estudo “Aterrizando na água: interdição aérea, tráfico de drogas e violência na Amazônia brasileira” dos pesquisadores Leila Pereira, Rafael Pucci e Rodrigo R. Soares.
O documento avalia que a restrição ao tráfego aéreo fez com que traficantes passassem a utilizar rotas fluviais, afetando diretamente as comunidades ribeirinhas.
De acordo com o parlamentar, não se pode resolver problemas estruturais com operações especiais ou com ações pontuais isoladas, sem um planejamento de curto, médio e longo prazo, envolvendo todas as esferas de poder e a sociedade civil.
“O trabalho dos pesquisadores mostra como o bloqueio ao tráfego aéreo de drogas na fronteira levou o crime a uma proximidade perniciosa com nossos cidadãos ribeirinhos. Uma ação bem intencionada, mas desconexa de uma política macro, produziu efeitos danosos à nossa gente”, avaliou o deputado.
Ele defende, desde 2023, uma colaboração entre união, estado e municípios, para o combate ao crime organizado na fronteira. O parlamentar chegou inclusive a falar em plano emergencial e da adoção de GLO, Garantia da Lei e da Ordem, recurso constitucional que confere às forças armadas a capacidade de administrar e executar o policiamento de áreas.
Dados publicados pelo “Aterrizando na água: interdição aérea, tráfico de drogas e violência na Amazônia brasileira”, revelam que, entre 2005 e 2020, aproximadamente 1.430 homicídios em municípios ao longo dos rios amazônicos tiveram relação direta à mudança da rota do tráfego aéreo para fluvial.
De acordo com o estudo, a restrição ao tráfego aéreo fez com que traficantes utilizassem rotas fluviais, afetando diretamente comunidades ribeirinhas. Os dados mostram que o aumento dos homicídios esteve diretamente relacionado ao crescimento da produção de cocaína nos países andinos. E aponta, ainda, um aumento das mortes por overdose, indicando maior disponibilidade de cocaína nos municípios afetados.
“Tenho me dedicado a percorrer o interior e estou plenamente convicto que sozinhos, enquanto estado, não teremos capacidade para combater o avanço das facções criminosas transnacionais. O combate precisa de estratégias que contemplem diferentes possibilidades modais de transporte e a realidade social da região, conforme mostra o estudo”, finalizou Comandante Dan, que preside na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), a Comissão de Segurança Pública, Acesso à Justiça e Defesa Social.
O estudo ilustra como intervenções pontuais podem gerar efeitos colaterais não intencionais. A pesquisa destaca a importância de considerar deslocamentos criminais e impactos sociais ao desenhar políticas de segurança. A ausência de monitoramento integrado entre modalidades de transporte e comunidades locais gerou efeitos adversos inesperados.
O trabalho indica que uma medida isolada na Amazônia pode ter impactos imprevistos de amplo alcance, algumas vezes no sentido oposto ao da intenção original.