Enquanto os trabalhos de engenharia avançam para contenção do talude no platô que vai receber o parque Encontro das Águas – Rosa Almeida, obra da Prefeitura de Manaus, a comunidade do entorno e população em geral podem participar das aulas-oficinas do Programa Integrado de Educação Patrimonial, que acontecerá nesta quarta (6/11) e sexta-feira (8/11), das 8h30 às 11h.
Na quarta, o local escolhido é a escola estadual Gilberto Mestrinho (rua Danilo Areosa, Colônia Antônio Aleixo), zona Leste, e na sexta, a aula acontecerá no auditório do hospital Geraldo da Rocha, com o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), na praça Tancredo Neves, s/nº, no mesmo bairro.
As aulas são uma etapa do Programa de Gestão do Patrimônio Arqueológico (PGPA) no parque, que tem um trecho do sítio Daisaku Ikeda.
Comunidade, convidados, estudantes e público em geral interessados podem participar da atividade gratuita que faz parte do processo de licenciamento do parque, feito pelo Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), consistindo no PGPA, atendendo instrução normativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Amazonas.
“A educação patrimonial é voltada para os comunitários do entorno do local alvo da futura obra, envolvendo a comunidade, os operários, os trabalhadores em geral, e as empresas que têm instalações e que agem na área do futuro parque urbano. O objetivo da educação patrimonial é despertar nos comunitários, nos agentes envolvidos, o conhecimento sobre esse patrimônio arqueológico, a legislação de proteção, e dizer a todos os envolvidos que é um patrimônio de todos os brasileiros, está dentro do direito difuso, e que existe um regramento de proteção”, explicou a arqueóloga Margaret Cerqueira, coordenadora geral do programa de arqueologia para o parque.
No sítio escavado, conforme Margareth, ele vem se apresentando como multicomponencial, ou seja, com mais de uma ocupação pré-colonial, conforme já tinha sido observado na primeira etapa da pesquisa. “Apresenta também a terra preta indígena, que é um solo antrópico, cuja datação pode alcançar até 2.000 anos atrás. Para além da terra preta, há a presença de material cerâmico que apresenta decoração que pode ser associada à fase Açutuba. Isso coloca Manaus com a mesma cronologia identificada na costa do Açutuba, em Iranduba (AM), pelo Projeto Amazônia Central (PAC), coordenado pelo professor Eduardo Neves. Logo, a cronologia para a referida fase é de 300 antes de Cristo até 400 anos depois de Cristo”, explicou a coordenadora, ressaltando que a confirmação da datação será feita em análise de laboratório.
Educação
O projeto de educação vai mostrar que o patrimônio arqueológico existe, ele é tangível e de todos. “Atuamos com uma equipe interdisciplinar, com arqueólogos, educadores, historiadores, entre outros. Estamos mobilizando os comunitários e fazendo as atividades específicas aprovadas pelo Iphan, que vão gerar um relatório denso”, completou Margaret.
O objetivo das aulas-oficinas é envolver a comunidade do entorno, mostrar o que está sendo feito em campo e também trocar conhecimento sobre o que eles têm de conhecimento e da própria vivência em um lugar tão rico de referências culturais e do próprio patrimônio arqueológico, além de incentivar a preservação do patrimônio.
Obra
Para o licenciamento do parque Encontro das Águas, o Implurb apresentou o projeto arquitetônico junto ao Iphan-AM, que exigiu uma primeira etapa de estudos arqueológicos. Nessa fase, o projeto foi deferido e se constatou que se tratava de um sítio arqueológico, uma extensão do Daisaku Ikeda, com terra preta indígena, material cerâmico e material lítico, que são as ferramentas feitas de pedra. A segunda etapa consiste no PGPA, que inclui o resgate arqueológico.
A obra continua com o acompanhamento de equipe de arqueologia. O licenciamento junto ao Iphan se soma aos licenciamentos urbanísticos e licenças complementares já obtidas para o cronograma de execução do projeto.
Niemeyer
O projeto original que envolve curvas em concreto é do renomado arquiteto Oscar Niemeyer, morto em 2012, tendo sido desenvolvido em 2005, no seu escritório no Rio de Janeiro, contendo um museu e um restaurante que totalizam 1.800 metros quadrados de área.
Passados mais de 19 anos, a proposta ganhou atualizações de engenharia, acessibilidade e arquitetura, expandindo o conceito para parque urbano, desenvolvido pelo Implurb, em 2021, totalizando uma área de implantação de 17.533,18 metros quadrados.
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Texto – Cláudia do Valle/Implurb
Fotos – Acervo Muiraquitã e Semcom