Com foco em soluções eficazes para os desafios da criminalidade na região Norte, a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) finaliza, nesta sexta-feira (30/5), a terceira edição do Seminário de Segurança Inovadora, reunindo especialistas nacionais e internacionais no auditório Belarmino Lins.
O evento recebeu a palestra “Justiça e seus efeitos na segurança pública no Brasil e seus efeitos inovadores”, de Ricardo Brisolla Balestreri, referência nacional em políticas públicas de segurança e ex-secretário nacional da área, consolidando o seminário como um espaço estratégico de articulação entre gestores, forças de segurança e instituições acadêmicas.
Balestreri comentou sobre o evento, destacando ter diante de si a missão de dialogar com os presentes, formados em grande parte por alunos do Curso de Oficiais e Praças da Polícia e Bombeiros Militares, sobre os problemas da segurança pública no Brasil, bem como sobre as possíveis soluções inovadoras para enfrentá-los.
“Este seminário, aliás, já traz em seu próprio título a ênfase na inovação. Gostaria, posteriormente, de aprofundar essa reflexão, ressaltando a importância de enxergarmos a segurança pública como um campo profundamente carente de propostas verdadeiramente inovadoras. Se é certo que a inovação é necessária em todas as áreas da administração pública, eu diria que ela se torna ainda mais urgente e imprescindível no âmbito da segurança pública”, declarou.
Com três décadas de atuação dedicadas à valorização de policiais, bombeiros e guardas municipais, Ricardo Balestreri enfatizou a importância de resgatar o que chamou de verdadeiro sentido da atividade policial no Brasil.
Para o conferencista, os profissionais da segurança pública devem ser reconhecidos como os “capilares da autoridade pública”, agentes que, segundo ele, representam no imaginário coletivo as figuras paternas e maternas que existem para zelar pela sociedade. “A presença da polícia deve estar orientada por uma vocação protetiva, ética e preventiva, não meramente repressiva”, defendeu.
Ao comentar o tradicional lema das corporações “servir e proteger a sociedade”, alertou para o risco de uma inversão de prioridades, na qual o combate ao crime se sobrepõe à função preventiva e de cuidado. “Perseguir criminosos é apenas uma consequência eventual da atividade policial, não o seu propósito essencial”, afirmou.
Experiências
Durante uma de suas palestras realizadas na Noruega, o educador, ex-secretário nacional de Segurança Pública e referência em direitos humanos, Ricardo Balestreri, compartilhou uma experiência marcante. Ao se apresentar dizendo “eu venho de um país pobre chamado Brasil”, foi imediatamente interpelado por um jovem estudante norueguês, que pediu a palavra para fazer uma correção.
“Professor, estamos há três meses estudando os indicadores socioeconômicos do Brasil em nossa escola, e gostaria de sugerir uma mudança em sua fala. O senhor não vem de um país pobre. O Brasil é tão rico que nos causa vergonha aqui na Noruega. Nós somos pedra e petróleo. Vocês são um luxo perto de nós. Por isso, nunca mais diga que vem de um país pobre chamado Brasil. Diga que vem de um país injusto chamado Brasil. Porque ser injusto é muito diferente de ser pobre”, afirmou o jovem.
Desde 1988, Balestreri afirma ter voltado seus esforços para a formação ética e humanista das forças de segurança, motivado pela convicção de que esses profissionais ocupam posição estratégica na transformação das estruturas de desigualdade que marcam o Brasil.
Para Balestreri, o sentido mais profundo do trabalho policial e de toda a segurança pública está em servir à sociedade como um todo, especialmente aos mais vulneráveis.
“Vocês não estão a serviço de uma bolha. A polícia, os bombeiros, os guardas estão, ou deveriam estar, a serviço da coletividade. E é nesse contexto, neste país profundamente injusto, que vocês são chamados a exercer suas funções com dignidade, coragem e compromisso com a transformação social”, disse.
A mensagem final de Ricardo Balestreri é direta e incisiva: sem uma polícia de proximidade, não há segurança pública eficaz. Segundo ele, a polícia precisa ser mais do que um instrumento do Estado, ela deve ser, sobretudo, a polícia do povo. Isso significa estar presente no cotidiano das comunidades, construir vínculos com a população, escutar, dialogar e estabelecer relações de confiança.
Para Balestreri, esse é um retorno à verdadeira vocação popular da polícia, que já foi mais evidente em momentos da história brasileira e que precisa ser plenamente recuperada. “A polícia deve conviver com o povo, ensinar e aprender com ele”, afirmou.
Na avaliação do palestrante, dedicar a vida profissional exclusivamente ao enfrentamento de criminosos significa negligenciar a missão mais ampla das instituições de segurança pública. “Não vale a pena dedicar a vida aos bandidos. O foco deve ser a proteção da comunidade e a construção de uma presença pública que promova segurança com dignidade e respeito aos direitos”, concluiu.
Biografia
Ricardo Brisolla Balestreri é especialista em segurança pública e urbanismo social, coordenando atualmente o Núcleo de Urbanismo Social e Segurança Pública do Centro de Estudos de Cidades, do Insper. Integra o Conselho Nacional de Segurança Pública do Governo Federal e atua como professor na pós-graduação em Urbanismo Social do Insper.
No âmbito governamental, destacou-se como diretor do Departamento de Pesquisa, Análise da Informação e Desenvolvimento de Pessoal em Segurança Pública e, posteriormente, como secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, onde participou da formulação e implementação do Pronasci (Programa Nacional de Segurança com Cidadania). Também exerceu os cargos de secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária e de secretário-chefe do Gabinete de Assuntos Estratégicos no Estado de Goiás.